Karatê Kid, um trabalho de adaptação que superou o tempo.
Izaías Correia
Um filme tipicamente feito para o público adolescente com os mesmos elementos já batidos de “volta por cima numa situação de bullying”, Karatê Kid– A Hora da Verdade tinha tudo para ser apenas mais um longa do gênero, mas alcançou voos mais altos, tornando-se um surpreendente sucesso de verão nos Estados Unidos.
A história do garoto novato que é visto como motivo de diversão por um grupo de arruaceiros da academia de karatê local, até hoje é vista com satisfação, passando ao longo das gerações com uma aceitação impressionante. O sucesso de Karatê Kid– A Hora da Verdade incentivou a produção de mais três sequências e um remake.
Dirigido por John G. Avildsen e escrito por Robert Mark Kamen, o filme trazia uma dupla de protagonistas com uma química na tela acima do normal, talvez esteja aí a raiz do sucesso de Karatê Kid, Ralph Macchio e “Pat” Morita, esse último com uma indicação de melhor ator coadjuvante ao Oscar e uma indicação ao Globo de Ouro pelo papel.
Apesar do estrondoso sucesso na terra do Tio Sam, o filme chegou aos cinemas brasileiros sem muita badalação em 1984, sua sequência, dois anos depois, teve uma divulgação melhor por aqui, sendo colocada em mais salas de exibição e com uma divulgação na imprensa bem maior. Na verdade o grande sucesso de Karatê Kid no Brasil foi construído na televisão, em grande parte graças à exemplar dublagem.
A Dublagem
Em 1987, quando o segundo filme ainda circulava em algumas salas de cinema no Brasil, a Herbert Richers concentrava um elenco de dublagem em torno da adaptação do primeiro filme para português, sob encomenda da Globo que tinha pretensões de exibi-lo ainda naquele ano.
Quando o veterano em dublagem Magalhães Graça recebeu o papel do Sr Miyagi e o quarentão Cleonir dos Santos teve a incumbência de dar voz ao garotinho Daniel Larusso, jamais imaginariam que estavam fazendo os papeis mais expressivos de suas carreiras. Ambos foram divinamente escalados pela diretora Ângela Bonatti. Graça fazendo anciões já era corriqueiro, mas a partir dali qualquer velhinho nipônico dublado na Herbert Richers passou a ter nome certo para interpretá-lo; Cleonir também era expert e dublar jovenzinhos e nem precisa de muito falsete pra isso.
Curiosamente dos três filmes lançados em que Ralph faz Larusso, Cleonir dos Santos dublou em apenas dois; enquanto nos quatro filmes onde “Pat” Morita interpreta o Sr Miyagi também só em dois trabalhos Magalhães Graça emprestou sua voz ao ator, pois faleceu em janeiro de 1989, ano de lançamento do terceiro filme.
Todo o elenco de dubladores coadjuvantes funciona muito bem, com Marcos Miranda fazendo de forma exemplar o rude John Kreese e Mário Jorge como Johnny Lawrence é tão convincente e malandro que chega a aborrecer. O tradutor Domingos S. Júnior adaptou com eficácia os diálogos às jovens gírias dos anos 80 que circulavam por aqui. O resultado foi espetacular!
O filme estreou na Rede Globo no dia 24 de agosto de 1987, num domingo, às 16h25 e desde então temos um sucesso da televisão reprisado até hoje com uma dublagem que não envelhece. O trabalho da Herbert Richers já foi lançado em DVD e foi exibido também na TV fechada.
Recentemente para Blu-Ray o filme foi redublado pelo estúdio Dublavideo. A diretora Bonatti afirma que não havia necessidade disso, que a distribuidora deveria ter mantido o trabalho original dos dubladores e criadores dos personagens em português, pois havia a possibilidade de remasterização. Ela compara: “imagine se na atualidade, as grandes obras de pintores, escultores, entre outros, fossem refeitas e o trabalho original de tantos filmes inesquecíveis fosse refilmado. Não consigo imaginar essa barbaridade! Seria como se nós fôssemos apagando a história”.
Confira abaixo os elencos de vozes no Brasil: