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Entrevista – Nizo Neto, ator, dublador e ilusionista.

Nizo Neto, ator, dublador e ilusionista.

Entrevista realizada por Izaías Correia

Nizo Neto, a voz brasileira do Matthew Broderick.

Francisco Anízio de Oliveira Paula Neto, mais conhecido como Nizo Neto, nasceu no dia 27 de abril de 1964 no Rio de Janeiro. Filho do humorista Chico Anysio e da atriz vedete Rose Rondelli, Nizo além de ator é ilusionista, integrante de várias entidades ligadas à essa sua curiosa e incomum arte, como: Society of American Magicians, Academy of Magical Arts & Sciences, Clube Mágico Português, Círculo Brasileiro de Ilusionismo (do qual foi diretor social por dois anos), entre outras. Também assinou por três anos uma coluna na revista portuguesa “O Mágico”.

Durante outros três anos, Nizo morou nos EUA, onde, além de participar de diversos workshops, se formou como barman profissional, tendo exercido a profissão em Nova York durante um ano e meio. Na televisão, começou em 1972 com o pai e, mais tarde, se destacou como o “seu” Ptolomeu da Escolinha do Professor Raymundo. Suas principais novelas foram Sinhá-Moça, A Próxima Vítima, O Cravo e A Rosa, Estrela Guia e a minissérie Um Só Coração. Desde 1983 ainda trabalha como dublador de filmes, desenhos e seriados para TV e cinema. Como se não bastasse tanta versatilidade, Nizo ainda é um apaixonado por corrida de cavalos e, em sociedade com o irmão Rico Rondelli, é dono de alguns animais no Jockey Club. Agora, está envolvido com a montagem de seu show-solo de comédia com o título provisório de “Quanta Besteira !”, que irá estrear no Rio no início de 2005. Nizo mora no Rio com a mulher Tatiana, os gatos Manonni e Stinky e é pai do Rian, que nasceu em Maio de 1990.


“Não sei o que seria da minha vida se
não tivesse nascido praticamente num camarim.”

Nizo Neto

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Uma das vozes mais marcantes dos anos 80.

INFANTV – Você começou a carreira artística trabalhando com o seu pai, no humorístico Chico em Quadrinhos, em 1972. Foi mais fácil iniciar trabalhando em família ou a cobrança era maior?
NIZO NETO – No início, claro, foi mais fácil. Não sei o que seria da minha vida se não tivesse nascido praticamente num camarim. Por isso, tudo foi muito automático. A ajuda do meu pai no início foi crucial. Claro que facilitou. E fora que ter um professor como Chico Anysio dentro de casa não é pra qualquer um! Além do mais, meu pai era dono de alguns programas e ele sempre me deu boas oportunidades. Mas depois vem o lado complicado que são as cobranças, comparações, essas coisas. Não é nada fácil. Mas tudo na vida tem um preço..

ITV – Ao longo de sua carreira você tem trabalhado mais diretamente com o público infanto-juvenil, como ator nos humorísticos e programas infantis e como dublador de desenhos animados. Quando está fazendo algum trabalho para esse público você se dá conta da responsabilidade do que está passando?
NN – Tenho muito respeito pelo público infanto-juvenil. Ele é extremamente exigente, crítico e pega uma grande fatia do nosso mercado. Por isso todo respeito é pouco. Com certeza eu me dou conta da responsabilidade mas, como uma pessoa 100% artista, nem sempre posso me dar ao luxo de escolher. Por isso, quando estou, por exemplo, dublando um desenho japonês de péssima qualidade artística e com uma mensagem duvidosa, eu procuro, com alguma habilidade artística, fazer o melhor possível e sem alterar tanto a obra, amenizar um pouco da violência ou da má qualidade artística..

ITV – Nizo Neto, você também tem trabalhos marcantes em telenovelas, como em A Próxima Vítima, O Cravo e a Rosa e Cabocla, entre outras. Qual dos dois é mais gostoso de fazer, dublagem ou novela?
GJ – Não dá pra comparar. Os dois são ótimos trabalhos, cada um com suas características. Em TV, ou teatro, tudo é mais completo. Você entra mais por inteiro como ator. É muito mais trabalhoso, com gravações noturnas e em locações estranhas e te toma mais tempo também. Em dublagem você concentra só na voz. E você vai no estúdio e não fica horas e horas esperando para gravar. Mas, por outro lado, a dublagem te leva para um mundo diferente, dos desenhos, tiras e heróis. Tem frases que só em um filme dublado você vai dizer.

ITV – A Escolinha do Professor Raimundo foi um desfile de astros consagrados do nosso humor (e também da dublagem), quando interpretou o Seu Ptolomeu você sentiu que realmente estava numa escola, mas de interpretação?
NN – Com certeza. O convívio ali foi maravilhoso. Onde mais você tem um artista do nível de Chico Anysio fazendo “escada” ? E contracenar com Walter D’Avila, Brandão Filho, Grande Otelo, Rogério Cardoso, Nádia Maria e tantos outros foi um privilégio que poucos da minha geração tiveram.

ITV – Nizo Neto, você é ilusionista, até recentemente esteve interpretando um mágico em “A Diarista”. De onde surgiu o gosto pelo ilusionismo? Fale-nos um pouco sobre essa atividade.
NN – Em 1988 eu fui chamado para apresentar uns números de mágica no quadro “Circo dos Astros”, no “Criança Esperança”. Nunca tinha nem pensado em mágica, não tinha o menor interesse. Mas com a experiência do “Criança …” eu conheci vários mágicos, me tornei amigo de alguns e, o que era um hobby, acabou virando profissão, embora eu seja considerado semi-profissional, por não exercer só essa profissão.

ITV – Como a dublagem tem sido sua maior área de atuação, acontece de você ser reconhecido pela voz nos trabalhos para teatro, cinema ou tevê, de alguém de repente falar:  “olha lá…é o Willycat dos ThunderCats”?
NN – Na verdade a dublagem foi a minha maior área de atuação do início dos anos 80 ao início dos 90. De lá pra cá a coisa nessa área está mais devagar pra mim. Tenho dividido mais minhas atividades entre palco, telinha, telona e voz. Dublagem é um trabalho muito bacana mas, em demasia, é muito estressante. Conciliar todos aqueles horários, horas e horas de “clausura” em estúdios gelados…é realmente cansativo. Mas eu sou contratado da VTI, onde trabalho umas duas vezes por semana, dependendo da “safra” da produção no momento. Hoje são muitos estúdios. Tudo dividiu muito. Mas sobre reconhecerem minha voz….as pessoas reconhecem sim. Mas eu já sou bem conhecido da TV, por isso as pessoas não me associam tanto só a voz. Mas, sempre que alguém na rua está em dúvida se “eu sou eu”, é só eu abrir a boca e…pronto…a voz denuncia.

ITV – Um dos personagens mais marcantes que interpretou na dublagem foi o Presto de Caverna do Dragão, como foi fazer aquele mágico meio atrapalhado?
NN – O Presto foi o primeiro personagem grande fixo de série que eu peguei. Na verdade foi o primeiro teste em dublagem que eu ganhei. E era pra Globo, numa época em que a Xuxa estava “bombando”. Foi uma bela experiência. Mas, nessa época, dublava-se todo mundo junto no estúdio. Hoje  são vários canais e cada um vai lá e grava sua parte. Então, apesar da convivência ser legal, a pressão era maior. Como eu falei eu estava meio que começando e dublagem foi uma coisa que eu demorei um pouco pra “pegar”. Mas foi bem marcante , me lembro como se fosse ontem.

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Como Seu Ptolomeu na Escolinha do Professor Raimundo

ITV – O elenco da dublagem de Caverna do Dragão não ficava apreensivo, assim como os telespectadores, de quando eles voltariam para casa?
NN -Mais ou menos. A gente não se envolvia muito. Mesmo porque foi tudo meio rápido. Se você reparar a primeira temporada de Caverna do Dragão tem só 10 ou 12 episódios. Isso se dubla em poucas semanas. E ficaram repetindo esses por anos e anos. Depois veio, anos depois, uma segunda temporada que eu nem fiz. Acho que estava morando fora na época.

ITV – Então não ficou uma decepção de nunca ter dublado o reencontro de Presto com sua família, já que o episódio final nunca foi produzido?
NN – Puxa foi duro pra mim, viu? Acho que foi aí que eu comecei a tomar Prozac (risos).

ITV – Aí surgiu o Mickey no seu caminho, muita responsabilidade…
NN – Uma certa. Foram poucas coisas do Mickey que eu fiz. Se você reparar o Mickey fala pouco. Depois eu parei de dublar ele, acho, quando eu saí da Herbert Richers. O que foi, de uma certa forma, um certo alívio porque a voz dele é MUITO fina. Um pouco desconfortável pra mim. E, como você disse, é uma responsabilidade. Pra ficar mais ou menos eu tô fora. Mas foi bem legal dublar o Mickey. Afinal, agora eu posso dizer: “Eu dublei o Mickey Mouse!”

ITV – Você disse que hoje a técnica permite que você grave sua voz separada do resto do elenco e depois eles mixam todas. Isso atrapalha o produto final, na sua opinião?
NN – De forma alguma. Se você me mostrar um filme gravado com todos e juntos e o mesmo filme gravado separado eu não vou  notar qual é qual. Perdeu-se muito pela convivência. E também, em alguns casos, é mais legal “contracenar”, por isso, ainda se grava muitas vezes em dupla. Mas com quatro juntos, por exemplo, são quatro pra errar e quatro pra ver mais uma vez e quando você acerta o outro erra e vice-versa. Cada um gravando sozinho é mais rápido e o diretor pode  focar mais em cada um e acho que dá pra fazer um trabalho mais caprichado.

ITV – Você já emprestou sua voz a grandes astros do cinema como Michael J. Fox, Tom Hanks, Kevin Bacon e Matthew Broderick, há algum ator que você gostou mais de fazer e algum foi mais difícil?
NN – Por acaso esses que você citou são bem tranquilos de dublar. O que eu mais gosto, por uma questão de eu achar que a minha voz “encaixa” melhor, é o Matthew Broderick. Talvez também por eu ter feito uma quantidade razoável de filmes dele. O último (“Mulheres Perfeitas”) foi um pouco mais trabalhoso porque era pra DVD e há um controle maior do distribuidor. Não diria nem trabalhoso, porque o filme era calmo, mas caprichado. Michael J. Fox também foi um que eu peguei uma certa “intimidade”. Apesar de ter dublado poucos longas dele, fizemos algumas temporadas de “Caras e Caretas”.  E, na minha opinião, sitcom é uma coisa meio complicada de dublar. Naquela época as sitcoms eram feitas em vídeo e o som ficava muito chapado, não parecia direito que as vozes estavam saindo das bocas dos personagens. E sempre, em sitcoms, tem o problema de algumas piadas que a gente tem que adaptar por questões culturais e isso sempre acaba ficando por conta do dublador, o que dá mais um trabalhinho.

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A voz do Mágico Presto.

ITV – Você diz que “Curtindo a Vida Adoidado”, um clássico da década de 1980, foi um dos trabalhos que você mais gostou de fazer? Por quê?
NN – É um filme legal. Gosto desse filmes despretensiosos que cumprem bem a função de divertir. Esse filme eu nem tinha visto, eu vi dublando. Achei engraçado e o Matthew bem “blasé”, cheio de carisma e com umas tiradas legais. Se você observar, o meu sincronismo nesse filme tá mais ou menos. Mas valeu pela interpretação. O sincro não detona o filme, a má interpretação sim. Esse filme eu fiquei bem satisfeito.

ITV – Pra você o que é mais complicado dublar, desenhos animados ou atores de verdade?
NN – O difícil do desenho é que ele é um “boneco” e a voz dá muita vida. Desenho japonês é a “cruz” de todo dublador ou diretor. Japonês abre a boca quatro vezes pra dizer “não” e duas pra uma frase duas linhas e o tradutor, claro, deixa a parte de adaptação por conta do ator, mas essa é outra história. Já dublar atores de verdade é difícil também porque, por mais respeito que se tenha com o original, uma vez que você dublou, já está alterando a obra. Em alguns casos pra melhor. Eu, particularmente, prefiro o Magnum com o Francisco Milani do que no original. O Orlando Drummond no Scooby-Doo e o Mario Monjardim no Salsicha também são, na minha opinião, melhor que os originais. E o desenho é feito pra você colocar a voz, entende a diferença? Por isso um filme dublado fica, em alguns casos, mais “forçado” que um desenho dublado. Mas as pessoas tem a tendência de implicar um pouco com dublagem. Eu mesmo , sinceramente, quando alugo um DVD sempre vejo no original com legendas. Mas pouca gente sabe que a dublagem brasileira está, junto com a alemã e a italiana, entre as três melhores do mundo. Opiniões da Dreamworks e da Disney. E eu tenho muito orgulho de fazer parte desse time.

ITV – Você costuma conferir o resultado final do seu trabalho? Costuma comprar jornal e vê onde um filme que você dublou vai passar? Essas coisas.
NN – No inicio, claro, deixava gravando até o Clube da Criança, com a Angélica na  Manchete (risos). Hoje, quando sai um DVD de um filme importante, eu alugo e vejo no canal dublado. Mas é maneiro quando estou quase dormindo, de TV ligada e entra minha voz num filme que eu não fazia ideia que tinha feito. É divertido!

ITV – Você está trabalhando em um show-solo de comédia para 2005. Fale um pouco sobre ele.
NN – Ano passado o Bruno Mazzeo, meu irmão, me chamou para fazer parte do pocket show “Os Famoso Quem?”, que fez uma temporada alternativa às terças-feiras no Mistura Fina, no Rio. Nesse show eu apresentava alguns monólogos interessantes e o show fez sucesso mas, infelizmente, por motivo de problemas de alguns integrantes do elenco em conciliar compromissos, tivemos que parar. Mas os quadros que eu fazia fizeram bastante sucesso e eu não quis deixar a idéia morrer, então estou escrevendo algum material para juntar com este que já foi feito nos “Famosos…” e montar um show de humor solo, estilo “stand-up comedy”, com alguns números de mágica. A idéia é fazer algumas cidades do Estado do Rio e depois botar em cartaz no circuito Rio/São Paulo e fazer uma turnê pelo Brasil.

ITV – Nizo Neto, muito obrigado pelo bate papo, eu gostaria que você deixasse uma mensagem para os visitantes do InfanTv.
NN – Eu que agradeço. Foi um prazer e continuem acessando o InfanTv. Um abraço !