E o Oscar vai para… Sílvio Navas
Um dos dubladores brasileiros mais versáteis deu voz ao Corleone em O Poderoso Chefão.
Izaias Correia – 05/02/2016
Primeiro veio o enorme sucesso do livro de Mario Puzo, em seguida a Paramount adquiriu os direitos de adaptação, dando a Coppola, com origens ítalo-americanas, a missão de realizar outro sucesso de bilheteria. Mas ele fez mais do que isso, concebeu um dos mais brilhantes títulos já realizados na história do cinema quando fez O Poderoso Chefão.
Tudo está perfeito no filme, fotografia, ritmo, a trilha sonora de Nino Rotta, a montagem, a constelação de nomes dando vida aos personagens e claro, Marlon Brando, na sua mais primorosa atuação.
Com a performance de Brando premiada com o Oscar e outras brilhantes atuações do elenco, além das constantes críticas da imprensa à dublagem brasileira na época, dublar a película tornou-se um gigante desafio. Como o filme só veio para a televisão em 1978, encontrou na época uma terrível turbulência no setor de dublagem, pois naquele ano ocorria a greve dos dubladores, com uma concentração maior no Rio de Janeiro. Assim o trabalho de adaptação do áudio para português foi levado para São Paulo, onde a Álamo se encarregou de realizá-lo.
Don Vito Corleone recebeu na Álamo a voz de Gastão Malta, até aquele momento com poucos personagens de destaque na carreira, mas com uma voz muito próxima do chefão italiano. Essa dublagem simplesmente se perdeu, mas embora não se possa avaliar a qualidade dela, ninguém tira de Malta o fato de ter sido a primeiro dublador do Don Corleone no Brasil.
Em sua primeira exibição, o filme foi mostrado em cinco partes, do dia 11 ao dia 15 de dezembro de 1978, pela TV Bandeirantes, que desembolsou 300 mil dólares pelo direito de transmissão da obra, como tentativa de destronar a Rede Globo que reinava absoluta todo final de ano com sua programação especial.
Então o filme foi adquirido pela Rede Globo em meados dos anos 80 e recebeu na ocasião a dublagem da Herbert Richers. Para dar voz a um Marlon Brando com a boca cheia de algodão, o dublador escolhido dessa vez foi Silvio Navas e é nessa interpretação magistral que justifico meu texto. Para quem conhece um pouco de dublagem sabe que Navas possui uma versatilidade na voz, impressionante, com a capacidade de fazer Darth Vader, Bud Spencer, Mumm-Ra e Willy Wonka terem vozes bem diferentes. Mas Navas fez bem mais que um falsete, ele dá uma interpretação ao cansado “padrinho” que torna um prazer ver o filme dublado. Claro, essa afirmação só é possível graças às demais vozes de Orlando Prado, Élcio Romar, Antônio Patino, Vera Miranda, José Santa Cruz e tudo que de melhor havia na Herbert na época.
Já vi amantes da sétima arte, daqueles que abominam dublagem e dizem que muito da qualidade artística se perde ali, se renderem ao talento de Sílvio Navas nesse papel, e lembro: estamos falando de dublar uma das atuações mais celebradas do cinema.
O filme teve ainda mais uma dublagem para VHS com o excelente Jomeri Pozzoli e uma recente redublagem para DVD, com o Luiz Carlos Persy, locutor dos canais por assinatura Telecine. Mas pra mim, pela dublagem de Don Corleone o Oscar vai para… Sílvio Navas.