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Entrevista – Mário Lúcio de Freitas, compositor de trilhas sonoras.

Mário Lúcio de Freitas, compositor de trilhas sonoras.

Entrevista realizada por Izaías Correia

385579_10151326835572240_1183091343_nMário Lúcio de Freitas ingressou no mundo artístico aos 4 anos de idade, atuando como o palhaço Fominha no Circo Marabá.

Após participar de vários programas como: Praça da Alegria e Pergunte à Câmera, Mário Lúcio passou a fazer parte do grupo de apresentadores de programas infantis como Parque de Diversões Cremogema e Sessão Zas-Trás.

Na Jovem Guarda Mário fez parte das formações de grupos como “Os Gianninis”, “The Beatnicks” e “Os Iguais”, além de participar como músico dos grupos “The Jet Black’s” e “Os Incríveis”.
É compositor de inúmeros temas pra novelas, além de aberturas de desenhos, programas e seriados como: Escolinha do Golias, Cavaleiros do Zodíaco, Ursinhos Carinhosos e Jem e As Hologramas. É ainda criador de vários jingles de marcas famosas.

Mário Lúcio fundou a Gota Mágica, empresa responsável pela dublagem de inúmeros sucessos no Brasil como: Punky – A Levada da Breca, Meu Querido Pônei, Moranguinho e Chaves.

O InfanTv teve o prazer de conversar com esse marcante nome da nossa televisão.


“A criança participava mais (dos programas). Hoje
elas praticamente assistem aos desenhos.”

Mário Lúcio de Freitas

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Mário Lúcio, compositor da trilha do Chaves.

INFANTV – Você começou na vida artística muito cedo, aos 4 anos, como foi essa fase?

MÁRIO LÚCIO – Minha família era circense. Meu pai (Nestor de Freitas) tinha um circo (Marabá), onde ele atuava como trapezista, junto com minha mãe (Adélia de Freitas), e como palhaço, em dupla com meu irmão (Renée). Assim, meu início como palhacinho FOMINHA aconteceu quase que naturalmente.

ITV – Ainda criança você participou de uma das séries nacionais mais aclamadas de todos os tempos, O Vigilante Rodoviário, como surgiu o convite para o seriado?

ML – Quando recebi o convite para atuar como ator na série, eu já estava apresentando um programa de televisão no canal 5, em parceria com Branca Ribeiro (Parque Petistil) e eles preferiam atores que estavam se destacando. Muitos atores da OVC fizeram a série.

ITV – Na época era difícil conciliar o trabalho de ator mirim com as brincadeiras e os estudos?

ML – Pra mim não, porque isso sempre fez parte da minha vida. Nasci praticamente no circo. Quando a gente mudava de cidade, minha mãe tinha que procurar escola, pra eu não perder as aulas. Isso ocorria toda semana. Fiz o primário desta forma. Uma semana em cada lugar. Então na TV já não tinha o problema de mudança. Eu estudava de manhã (já era o ginásio), brincava um pouco depois do almoço e ia pra TV. Teve uma época que eu ainda estava fazendo circo depois da TV, e o circo estava em Bertioga. Todos os dias eu fazia esse ritual – escola, brincadeira, TV, ônibus pra Santos, atravessar o mar com uma catraca, circo e voltar pra São Paulo – É brincadeira?

ITV – Os programas infanto-juvenis sempre estiveram muito presentes em sua vida. Você chegou a apresentar alguns, não é? Fale sobre eles.

ML – Apresentei o Parque de Diversões Cremogema, ao lado da Mariuza e grande elenco (1960), Parque de Diversões das Casas Pernambucanas, com Branca Ribeiro e várias crianças (1962), Parque Petistil, com Branca Ribeiro (1963) e Sessão Zas-Trás, com Tio Molina, Ayres Campos (o famoso Capitão 7), Maximira Figueiredo, Lesco-Lesco e grande elenco (1964). Em todos eu atuava como apresentador e cantor.

ITV – O que mudou na linguagem dos programas infantis apresentados por você para os atuais?

ML – Na época era tudo ao vivo, era tudo baseado em teleteatro, historinhas, novelinhas, musicais, gincanas, etc. e a criança participava mais. Hoje, ela praticamente assiste ao desenho.

ITV – Você também trabalhou com temas de novelas, inclusive das infantis Chispita e Lupita. Você tem como apontar aquele que mais lhe agrada?

ML – Fiz muitas aberturas de novelas e séries (10 novelas e várias séries e jornalismos), mas de todas, a que eu gosto mais é a do Jerônimo, em parceria com Marcelo Gastáldi. Gosto muito também da Angel, a Menina das Flores e Rei Arthur.

ITV – Como surgiu a Gota Mágica?

ML – Eu já tinha um estúdio antes (a Marsh Mallow) com dois sócios. Fazíamos publicidade, discos, dublagens. Aí resolvi montar algo sozinho e fundei a Gota.

Palhaço FominhaITV – A partir dos anos 80, vocês começaram a verter os temas de abertura do original para o português. Surgiram temas inesquecíveis. Como ocorre esse processo para compor uma versão?

ML – Para algumas séries eram feitos temas novos (como Chaves, Rei Arthur, Luluzinha e Bolinha, Fábulas de uma Floresta Encantada, Angel, a Menina das Flores, Punky – A Levada da Breca, etc.) e para outras apenas vertíamos a música original (Jem e As Hologramas, Ursinhos Carinhosos, Meu Querido Pônei, Moranguinho e mais recentemente Dragon Ball, Bananas de Pijamas, Saylor Moon, etc.). No caso das versões, o tradutor mandava a tradução literal da letra original e eu a adaptava para ficar com cara de música. Assim foi feita a série inteira de Jem e As Hologramas, Chaves, Barney e seus Amigos do SBT…

ITV – O tema dos Ursinhos Carinhosos até hoje é um dos mais procurados no InfanTv, a versão é sua também né?

ML – Recebi a tradução, adaptei e resolvi cantá-lo eu mesmo. Pouca gente sabe disso. Fiz assim porque, durante a série, em alguns capítulos, tinha outras músicas cantadas e o fato de eu cantar facilitaria.

ITV – O trabalho realizado com as músicas das séries Chaves, Chapolin e Clube do Chaves, continua agradando ao público dessas séries que sempre se renova. Como você vê esse carinho por parte dos fãs?

ML – As séries do Chaves são realmente um sucesso de comunicação. E o engraçado é que ninguém botava fé quando elas chegaram. Tanto que a Televisa mandou a série Chaves de graça, de contrapeso de umas novelas. Com relação ao carinho, eu vejo com satisfação que um trabalho da gente, feito no começo dos anos 80, sem tecnologia nenhuma, continua a fazer sucesso, mesmo com tudo isso contra.

ITV – Falando em Chaves, você é responsável por grande parte das adaptações das piadas para a realidade brasileira. Como se desenvolveu esse trabalho?

ML – Às vezes, se traduz literalmente a piada e ela perde o sentido. Tem uma que eu gosto de citar, que foi um erro crasso, que passou pela direção, num dos primeiro capítulos: o Kiko aparece como engraxate e pergunta – Graxa? E o Chaves responde – De nada. Desta forma, não tem graça nenhuma, porque a piada era um trocadilho. Em espanhol, “obrigado” se diz “gracias”, que confunde com graxa.

ITV – Você era amigo pessoal do dublador Marcelo Gastáldi, é verdade que vocês tinham uma banda?

ML – Foi em 1966. A banda chamava-se “Os Iguais”. Dela participavam, além de mim e do Marcelo, o Antônio Marcos, que viria a se tornar um cantor famoso, e mais um funcionário do Canal 5 (hoje, Rede Globo), Apolo Mori. Gravamos muitas canções, mas a mais famosa foi “A Partida”, nascida de uma parceria minha com o Marcelo. Foi aí que nasceu nosso trabalho musical. Depois vieram as aberturas de novela (“Anjo Bom” e “A Família”, da novela Chispita, Estranho Poder, Jerônimo, Punky – A Levada da Breca, entre outras.).

Os Iguais

ITV – Sendo responsável por dublagens de inúmeros sucessos, com trabalhos primorosos, porque a Gota Mágica não teve continuidade?

ML – Quando saí da sociedade da Marshmellow para montar um estúdio sem sócios, esse estúdio seria utilizado por mais duas firmas, que iriam dividir as despesas da estrutura com a Gota Mágica, mas logo no início essas firmas fecharam, deixando as despesas somente com a Gota, que estava engatinhando e não aguentou.

ITV – Você se dá conta da responsabilidade que é trabalhar para o público infantil?

ML – Com certeza. É um público que não disfarça. Não gostou, não gostou e pronto. Não sabe mentir.

ITV – Como você avalia a qualidade na nossa dublagem hoje?

ML – Excelente. Uma das melhores do mundo. Pena que alguns empresários só pensem em ganhar dinheiro, deixando passar algumas coisas que poderiam ser melhoradas.

ITV – Mário, muito obrigado por esse bate papo, gostaria que você deixasse uma mensagem para o pessoal que visita o InfanTv.

ML – Obrigado pelo carinho que dedicam ao meu trabalho e, quando puderem, visitem meu site que ficarei honrado (www.marioluciodefreitas.com.br). Com relação ao InfanTv, eu o acho um site muito completo, que traz uma contribuição muito valiosa. Obrigado por me deixar participar dele. Um forte abraço a todos.

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